Caminho Inglês - 15 e 16 de março de 2025

Durante o Caminho, foram muitos os testemunhos de homenagens das povoações à pioneira da literatura galega, Rosalía de Castro, que devolveu ao galego o estatuto de língua escrita, ao publicar a obra “Cantares Gallegos” (Vigo, 1863). O Dia de Rosalía comemora-se a 23 de fevereiro, data do seu nascimento em Santiago de Compostela (1837. Faleceu em Padrón, 15 de julho de 1885). Imaginando que, provavelmente Rosalía terá percorrido estas paragens, nada como dar-lhe voz:

DICEN QUE NO HABLAN LAS PLANTAS, NI LAS FUENTES, NI LOS PÁJAROS – Rosalía de Castro

“Dicen que no hablan las plantas, ni las fuentes ni los pájaros

Ni las ondas com sus rumores, ni com su brillo los astros,

Lo dicen, pero no es cierto, pues sempre cuando yo paso

De mi murmuran y exclaman:

-Ahí va la loca, soñando

Com la eterna primavera de la vida y de los campos,

Y ya bien pronto, bien pronto, tendrá los cabellos canos,

Y ve temblando, aterida, que cubre la escarcha el prado.

Hay canas en mi cabeza, hay en los prados escarcha,

Mas yo prossigo soñando, pobre, incurable sonámbola,

Com la eterna primavera de la vida que se apaga

Y la perene frescura de los campos y las almas,

Aunque los unos agostam y aunque las otras se abrasan.

Astros y fuentes y flores, no murmuréis de mis sueños,

Sin ellos, ? cómo admiraros ni cómo vivir sin ellos?”

5ª Etapa – Bruma - Sigüeiro

Às seis horas da manhã gélida de sábado (2° C) reuniu-se o grupo de caminheiros no autocarro rumo a… à garagem da empresa de camionagem, na Maia!!! Trocamos de autocarro depois de uma busca pela chave do mesmo…Iniciamos a nossa viagem rumo à Galiza tiritando de frio, pois o ar condicionado não funcionava… Mas, nem tudo foi mau, muitos quilómetros depois, o ar condicionado lá começou a funcionar e o conforto voltou. Peripécias!

Iniciamos esta jornada em Bruma, rumo à Terra de Ordes, famosa pelos seus grelos. O nosso picnic foi em Ardemil, na Malla de Ardemil, onde um gigante Santiago em pedra nos acolheu, num curioso parque repleto de esculturas em pedra e um dinossauro metálico.

Os campos de grelos floridos, entrecortados por prados de diversos tons de verde intenso, ou por talhões de terra recém lavrada, por casas dispersas ou por pequenos aglomerados rurais, foram a nossa companhia ao longo desta tarde. O percurso ondulado passa também por belas zonas florestais. Chegamos a Sigüeiro quando o cansaço já pesava e a tarde se esvaía a cada passo…

Atravessando a ponte sobre o Rio Tambre chegamos ao nosso autocarro, rumo ao merecido descanso no Albergue Monte do Gozo (a apenas 4 km de Santiago de Compostela). Quando chegamos, já a noite fria se havia instalado. O dia não terminaria sem mais umas peripécias: houve quem tenha ficado no autocarro à espera de quarto, houve quem tenha trocado as malas e quem tenha “invadido” quarto alheio! E tudo isto antes do jantar! (Efeitos secundários de 25 km nas pernas!!)

6ª Etapa – Sigüeiro – Santiago de Compostela

Pela manhã, já conseguimos apreciar este complexo turístico único, localizado numa ampla zona natural e com grande valor histórico. Para os peregrinos que provêm do Caminho Francês, esta colina é o lugar onde se avistam pela primeira vez as torres da Catedral (daí o regozijo, o gozo), sendo um lugar de imenso valor emocional e espiritual, cenário de lendas, milagres e tradições centenárias.

Ao longo da história é considerado o segundo lugar mais visitado, logo a seguir à Catedral. Em 1989, o Papa João Paulo II escolheu este local para a celebração das Jornadas Mundiais da Juventude. Durante o Ano Santo de 1993 foram colocadas no miradouro as Esculturas de Peregrinos (obras de Acuña, escultor galego).

Apreciamos o aproveitamento do relevo do terreno para a implantação de um enorme auditório em anfiteatro natural e umas originais piscinas. E como a manhã estava muito fria, fizemos um aquecimento, subindo até ao miradouro das Esculturas. Até os enormes peregrinos apontando para as torres da Catedral pareciam repetir uma frase batida: “É JÁ ALI…”. Para nós, faltavam ainda 15 km…

O autocarro levou-nos de volta a Sigüeiro e iniciamos a caminhada com afinco, pois “Era já ali…”. Logo saímos da zona urbana e voltamos aos caminhos rurais, com os campos floridos e as cercas com ovelhas, cavalos e vacas, onde a Primavera já despertava os instintos naturais…

Uma das zonas mais surpreendentes foi o grande carvalhal (o Bosque Encantado) onde as árvores, ainda sem folhas, se nos ofereciam uma paisagem maravilhosa: os troncos envoltos em musgo, em líquenes, ou heras trepadeiras, e os seus ramos como que rabiscados em direção às nuvens… Atravessá-lo foi mesmo encantador!

Entramos em Santiago pela periferia industrial e cada passo nos aproximava do centro e da Catedral. Em grupo coeso e emocionado, chegamos à Praça do Obradoiro. Terminamos o Caminho Inglês de Santiago entre lágrimas, sorrisos, abraços e beijos. Cada caminhante com a sua emoção particular, mas todos unidos no agradecimento ao nosso Professor Manuel Araújo e à nossa Professora Manuela Felício, por mais uma aventura concretizada. Não podemos esquecer os momentos de partilha, de interajuda, de companheirismo, de introspecção, as gargalhadas, os desabafos, os convívios, os comeres e os beberes. Fica também a gratidão às caminheiras Geni e Vânia, o nosso serviço de catering de pequeno-almoço de grande qualidade e simpatia, assim como a todos os aniversariantes.

Que venham mais aventuras, pois o próximo Caminho “É JÁ ALI…”

SON LOS CORAZONES DE ALGUNAS CRIATURAS – Rosalía de Castro

“Son los corazones de algunas criaturas

Como los caminos muy transitados,

Donde las pisadas de los que ahora llegan,

Borran las pisadas de los que pasaron:

No será posible que dejéis en ellos,

De vuestro cariño, recuerdo ni rastro.”

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