8 Setembro 2025
Acontece
Todos os anos, quando se inicia um novo ano letivo, regressa também um tema que há demasiado tempo marca a agenda educativa: a falta de professores. O problema repete-se, agrava-se e parece não encontrar resposta estrutural. Não se trata de uma surpresa ou de uma realidade súbita. Há mais de duas décadas que a FNE alerta para os riscos de uma profissão desvalorizada, marcada pela estagnação salarial, pela ausência de perspetivas de carreira e pela falta de atratividade para os mais jovens.
Já em 2002 a FNE dizia com clareza: “Não há professores a mais, há respostas educativas a menos.” Mas esse alerta foi ignorado pelos sucessivos governos. Hoje, as consequências estão à vista: uma classe docente envelhecida, a saída do sistema de ensino de milhares de professores e educadores e a incapacidade de atrair jovens em número suficiente para responder às necessidades da Escola Pública. Só na próxima década, mais de 4.000 docentes aposentar-se-ão anualmente, colocando o sistema educativo perante um desafio ainda maior.
É verdade que têm sido tomadas algumas medidas para atenuar a carência de professores. Contudo, revelam-se insuficientes face à dimensão do problema. O que continua a faltar é uma visão política de longo prazo e a coragem para concretizar as soluções que há muito estão identificadas: uma revisão justa e profunda do Estatuto da Carreira Docente, o reconhecimento integral de todo o tempo de serviço, uma valorização salarial efetiva, condições e respeito pelos limites do tempo de trabalho, exigência e rigor no cumprimento de regras e tolerância zero para atos de indisciplina e violência escolar, autonomia profissional e a redução da burocracia que afasta os professores da sua verdadeira missão: ensinar.
Um exemplo claro encontra-se na formação inicial de professores. A procura existente demonstra que é possível formar mais docentes, mas o Governo continua a não conseguir abrir vagas suficientes para responder as necessidades do futuro. Este bloqueio compromete não só a renovação geracional como também a qualidade da Educação.
A pergunta impõe-se: será possível iniciar um ano letivo sem notícias de falta de professores? A resposta é sim! mas apenas quando houver uma mudança estrutural na forma como se encara a profissão docente e se planificam as necessidades do sistema educativo. Enquanto se insistir em medidas avulsas, temporárias e insuficientes, o problema continuará a repetir-se.
É urgente valorizar a profissão docente em todas as suas dimensões: melhorar salários, reposicionar os docentes no escalão a que têm direito, rever o modelo de avaliação, garantir estabilidade profissional, assegurar condições de trabalho dignas e motivadoras. Paralelamente, é indispensável repensar a formação inicial e contínua, tornando-as mais atrativas e ajustadas às necessidades do sistema educativo e de cada um dos docentes.
Sem estas mudanças estruturais, Portugal corre o risco de perder professores e afastar potenciais candidatos. Só através da valorização efetiva da carreira docente será possível assegurar a renovação geracional, a estabilidade das escolas e a qualidade da educação. O país precisa de coragem política para colocar a Educação no centro das prioridades nacionais.
Só assim será possível preparar devidamente cada ano letivo e garantir que deixamos de iniciar setembro com a mesma notícia de sempre: a falta de professores.
Porto, 8 de setembro de 2025
Pedro Barreiros
Secretário-Geral da FNE
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